Dentre o primeiros livros de ‘adultos’ que li, estão os romances de Daphne Du Maurier: “Rebecca”, “Minha Prima Raquel”, “O Voo do Falcão”, “O Bode Expiatório”…
Lembro-me muito bem como fiquei encantada com o a história que é narrada em REBECCA, muito diferente dos romances “cor-de-rosa” que eu havia lido até então. É uma narrativa em primeira pessoa e, em momento algum, aparece o primeiro nome da personagem-narradora, a não ser como Mrs. de Winter, depois que se casa com Mr. de Winter. Para facilitar a compreensão vou chamá-la de MD.
A primeira frase já me chamou a atenção, uma maneira direta de começar a narrativa:
À noite passada sonhei que tinha ido novamente a Manderley.
Manderley é o cenário da história, mas tão importante que não é possível dissociá-lo da narração. Seu dono é Max de Winter que, desde a morte de sua mulher, Rebecca, afastou-se da propriedade e passou a viajar de um lugar para outro, até chegar a Monte Carlo, Sul da França. O Sr. de Winter não deseja socializar-se com ninguém, preferindo estar sempre sozinho e voltado para dentro de si mesmo. Mas ele é atraído por uma jovem simples espontânea, hospedada no mesmo hotel, acompanhando, como criada, a uma dama rica e arrogante. Essa jovem é a narradora, a quem denomino MD.
De maneira casual, ela e Max de Winter se aproximam, conversam, saem a passeios – e acabam se casando. Em lua-de-mel, viajam de carro pela Itália e França, sentem-se muito felizes juntos e, meses depois, retornam à Inglaterra e vão morar em Manderlay.
A Mansão de Manderley, uma belíssima propriedade rural, acaba sendo como que também um personagem do romance. O primeiro capítulo é dedicado totalmente a ela. Com seus quartos e salas deslumbrantes está, em todo lugar e em todos os objetos, impregnada pela presença de Rebecca – é isto que Mrs. Danvers, a governanta, faz questão de mostrar todos os dias e a todo momento para MD, agora a nova Sra. de Winters. Mrs. Danvers adorava a falecida Rebecca e não se conforma que o patrão tenha se casado novamente. Passa a odiá-lo, assim como à sua nova esposa. Tenta fragilizar DM, mostrando sutilmente (ou nem tanto) o quanto Rebecca era uma mulher superior, inteligente e linda, admirada por todo. Uma mulher inimitável e insuperável, à qual nenhuma outra poderia substituir.
MD não tem coragem de enfrentar essa inimiga e não encontra apoio no marido, sempre muito ocupado com seus negócios e com um ar distanciado. A jovem esposa imagina que o distanciamento de Max é devido à falta que ele sente de Rebeca, e ela, MD também vai se fechando em si mesma e se tornando cada vez mais insegura e perdida.
Ainda não sabe que a esperam eventos dramáticos e decisivos, em que terá que mostrar que tipo de pessoa ela realmente é.
A maestria desse romance está na condução de sua narrativa, criando um suspense que se estende, apresentando a cada momento um suspense novo, produzindo uma trama cada vez mais instigante, que prende o leitor até desfecho da narrativa.
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Com o título REBECCA, A MULHER INESQUECÍVEL, o diretor Alfred Hitchcock levou essa história para o cinema, assim como outros romances e contos de Daphne Du Maurier.